quinta-feira, 29 de maio de 2008

PROVAS DE AMOR



- Vim o mais rápido que pude. Você parecia tão desesperada ao telefone!
- Ele me deixou.Ele não me ama!
- Não acredito
- É isso mesmo que estou falando. Ele me deixou. Ligou de São Paulo, logo
depois do programa de TV, e disse que não vem mais para casa. Eu sabia . Ele não me ama. Nunca me amou. Sequer pensou em me amar!
- Incrível!
- Exatamente. Vivi estes três anos desiludida com suas demonstrações
de amor. Estava sendo enganada o tempo todo.
- Mas, meu Deus, ele sempre foi fiel, sempre esteve ao seu lado e vivia
manifestando, publicamente, o que sentia por você. Como é que, de repente, toma essa decisão?
- Outra mulher. Só pode ser outra mulher. O que poderia ser?
- Melhor você se acalmar. Toma este copo de água, respira fundo. Nestas
horas é preciso ter calma. Alguma explicação tem de haver.
- Você sabe que eu sempre tive insegurança sobre o que ele sentia por mim.
Afinal, demorou muito para largar a primeira mulher e vir morar comigo. Mas , de uma certa forma, tomava atitudes que me tranqüilizavam nos momentos de insegurança.
- Isso é verdade. Como naquela vez em que vocês passaram em frente do banco
onde a ex-mulher dele trabalhava e você pediu para entrar.
- Queria que ele me apresentasse à ex-mulher e dissesse a ela que me
amava. Ele fez isso. A mulher ficou com cara de boba. Só disse “ Ahnn”. E saímos logo a seguir, antes que ela falasse qualquer coisa.
- E você ficou mais tranqüila quanto aos sentimentos dele pela ex-mulher,
não é mesmo?
-Ainda ficou um senãozinho: fui eu que pedi. Seria melhor se tivesse agido
espontaneamente. De qualquer forma, foi uma prova de amor.
- É verdade
-Não esqueço, também, do caso com a família dele.
-Desse eu não sabia.
-Tive uma vez uma briga com a mãe e os irmãos dele. Ele parou de falar com a família. Um dia, cruzamos com a velha na feira e ele nem olhou para ela.
- Realmente, ficou do seu lado.
- Eu tinha falado, depois da briga, que se ele me amasse, jamais falaria
com a mãe e os irmãos novamente. Afinal, a sua família, agora, era eu, não é mesmo? Ele entendeu e rompeu relações.
- Outra forte prova de apreço por você.
- Mas agora vejo que tudo era uma ilusão.Do jeito que ele falou , ao telefone,
gaguejando, voz trêmula, nem parecia o homem que pouco tempo atrás chamou aquele meu antigo chefe de serviço para a briga.
- É mesmo?
- O cara gritou comigo por causa de um problema no trabalho. Me senti muito humilhada e fui para casa mais cedo. Quando ele chegou , expliquei o que tinha acontecido. Disse para eu pedir demissão, afinal a gente nem precisava daquele salário.
- E você pediu?
-Sim, mas não consegui esquecer a humilhação. Um dia, no shopping,
quando cruzamos por acaso com o ex-chefe, não aguentei: pedi para ele tomar satisfações. Você sabe, assim o cara saberia que eu tinha quem me defendesse; não era uma desprotegida da vida.
- Mas ele nunca foi de briga!
- Os dois quase saíram no tapa.Se não fosse a segurança..
- Não consigo imaginá-lo , pacato e tímido do jeito que é, fazendo uma coisa
dessas.
-Acho que, quando um homem ama sua mulher, deve ser o defensor dela. Foi outra demonstração de amor que pedi e ele deu.Lembrando essas coisas, aumenta minha revolta agora
- Também estou surpresa. Lembro que conheci vocês dois quando compraram de mim aquele apartamento na praia. Recebi uma bela comissão.
- Pois é. No começo , dizia que o apartamento era muito caro e lembrei que, se vendêssemos o que a gente morava e aquela ocupado pela tia dele, dava para conseguir uma boa entrada e o financiamento sairia mais barato.Respondeu que não podia fazer isso porque tinha compromisso de deixar a velha morando lá depois que ficou viúva.
- E como isso ficou resolvido?
-Do jeito que deveria ser resolvido, né?A tia foi viver com a mãe dele, que é irmã dela. Afinal, morava no apartamento há muito tempo, desde que ele era solteiro, quando o comprou. Antes, nunca precisamos do imóvel, mas, agora, surgia uma necessidade. Foi isso que expliquei quando ficou indeciso. Acharia muito estranho se ele deixasse de pensar em nós nessa circunstância. Seria uma prova de desamor
- Parece que, mais uma vez, deixou claro que você estava acima de tudo.
-Me senti segura.
-E agora tem essa história do programa de TV. Todo mundo comentou. Que coisa incrível!
- Pois é.Tudo começou naquele dia, no aniversário, quando o pessoal falava
sobre televisão.
-Lembro..Criticávamos os programas de calouros e as situações ridículas em que as pessoas sem talento ficavam.
-Então. Aí, voltávamos para casa, e, não sei por que, tocamos no assunto. Perguntei se ele seria capaz de ir a um programa de calouros.
-Claro que respondeu não! Não sabe cantar e, mesmo que soubesse, tímido
do jeito que é, nem chegaria na porta da emissora para se inscrever.
-Isso mesmo. Mas, desafiei: seria capaz de se apresentar no programa só para demonstrar amor por mim?
-Pediu isso?
-Veja bem. Não pedi para ir lá cantar, pois sei que ele não sabe. Seria só um pretexto para, diante das câmeras, em rede nacional, dizer que me amava. Uma coisa legal, né?Argumentei que seria o momento mais feliz da minha vida. Ele foi e fez. Queria muito ver a cara da ex-mulher dele naquela hora.
- Até o apresentador ficou surpreso. Depois que ele desafinou e foi gongado, correu para diante da câmera, gritou teu nome bem alto e completou: te amo!
- Pois é. E, meia hora depois, telefonou dizendo que não vinha mais para casa. Dá para entender um absurdo desses? Só pode ter outra mulher na história. Ele não me ama, nunca me amou.
-Calma. Não adianta se descontrolar. Mas foi só isso que ele falou,mesmo?
-Bem, na verdade, não disse que não ficaria mais comigo. Disse que não
voltaria para cá. Iria permanecer uns dias na casa de um amigo, na capital, enquanto providenciava nossa mudança. Alugaria um escritório e um apartamento lá e, em pouco tempo, a gente mudava de uma vez. Ja viu coisa mais ridícula?Por que ele não pode mais voltar?
- Você sabe, ele sempre foi muito acanhado e, fazer o que fez, na TV, deve ter sido difícil. Deve ter pensado o quanto seria constrangedor voltar a conviver , agora, com os amigos, conhecidos e, principalmente, no fórum, com os colegas advogados, juízes, promotores, funcionários, clientes...
- Quer dizer que ele está com vergonha de ter declarado por mim mim?
-Não é bem assim...
-Além disso, como pode querer que eu mude para São Paulo? Não gosto de lá, vivi sempre aqui na Baixada. Minha família , meus amigos, minhas recordações de infância, os locais onde faço compras, meu cabeleireiro, estão todos aqui. Como pede que eu mude minha vida de uma hora para outra ?
- Sim, mas...
- Ele não me ama. É só isso, e nada mais.

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